quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Mentir, o Verbo

 Por Sérgio da Costa Ramos


Os políticos — sem generalizações — mentem. “Aliás, todo mundo mente — e quem diz o contrário, mente mais ainda.” Mas ninguém é tão especialista em mentira quanto os políticos.
Eles mentem “profissionalmente” e têm consciência disso. Não estão preocupados em cumprir promessas. Mentem para se dar bem. E quando acreditam na própria mentira, seu poder de persuasão se torna infinitamente maior.
No Brasil, “um político mente não só pelo verbo, mas pela verba” — digo eu.
O autor dessas ousadias, segundo as quais “a mentira é o pilar das nossas relações sociais”, é o filósofo americano David Livingstone Smith, da Universidade de New England, para quem “a dissimulação é parte da vida em sociedade e o mundo seria um caos se todos decidissem falar a verdade”.
Admitamos que todo mundo mente um pouquinho. E que as pessoas de bem cometem  mentiras “piedosas”, como elogiar um gordo, achando-o “mais elegante”, ou animar um doente terminal, combinando “uma viagem” ou um “churrasquinho”, “para quando saíres deste quarto”.
São mentiras veniais, bem diferentes das “venais”, que movem os céus e as terras, especialmente o mundo financeiro e político. Do que se nutrem as chamadas “Bolsas de Valores”, senão da boataria e da especulação mais desabrida? E as campanhas políticas? O que seria delas sem uma boa dose de mentira e dissimulação?
Se o filósofo Smith tem razão, precisamos todos conhecer as virtudes da mentira, pelo menos para  praticar a menos virulenta — a mentira socialmente mais aceita, posto que, apesar de “cultivada”, esta senhora é profundamente renegada do ponto de vista moral.
Para conhecer melhor a “criatura”, fomos encontrá-la em sua luxuosa alcova, mal encoberta por véus sensuais, que insinuavam suas formas sem desnudá-la completamente.
O paradoxal na vida da Mentira é que ela se traveste de Virtude, para melhor seduzir os seus fiéis praticantes. 
A dissimulada criatura recebeu-me com um jeito tímido, cheia de cílios, esperando que tomasse toda a iniciativa, como aliás, se espera de uma senhorita educada. Parecia espantada, com um ar assim de “o que é que esse sujeito quer saber de mim”?
Minha primeira pergunta foi muito simples: 
Então, você sempre morou em Brasília?
Morei uns tempos. Mas logo notei que aquele não era ambiente para uma moça de boa família.
E os políticos, eles te amam?
Olha, sou muito útil. Mas eles me usam e depois me jogam fora. Mentem pra mim. Pode? Mentem para a própria Mentira...
— E o que você diria daquela famosa máxima de Bernard Shaw, “A Virtude não passa de uma tentação insuficiente”?
É uma verdade. 
Diz aí uma grande mentira.
Os governos sempre prometem “cortar despesas e zelar pelo dinheiro público”. Mas todos eles piscam um olho pra mim...

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