Nesta semana que passou, comemoramos o dia das crianças. Hoje, o dia das crianças mimadas e fúteis, que não é mais um mérito, apenas uma data comercial. Crianças que merecem ter o seu dia, são aquelas menos favorecidas, que lutam contra a miséria, que aprendem a ter responsabilidade a partir dos primeiros passos, que trabalham desde cedo para ajudar na renda familiar, mesmo que isso seja ilegal. Posto, a seguir, um relato da história infantil.
José Antônio Hüntemann
José Antônio Hüntemann
Por G1
"Maria, 9 anos, pastora. João, 10 anos, aprendiz de sapateiro." Assim eram registradas as crianças escravas nos inventários e testamentos do Brasil do século XIX, sempre com uma profissão associada ao nome.
E não eram apenas as escravas que precisavam trabalhar antigamente. Na Idade Média e mesmo nos séculos XVIII e XIX, logo que começavam a andar e a falar, os pequenos já aprendiam algum ofício, mesmo que doméstico. "As crianças eram encaminhadas para o mundo do trabalho realmente muito cedo", explica Mary Del Priori, historiadora e autora de "A História da Criança no Brasil" (Ed. Contexto).
Elas brincavam, competiam e conviviam com os adultos, segundo os estudos do historiador francês Philippe Ariès. As roupas, inclusive, eram parecidas. "Elas eram vistas como miniadultos", disse em entrevista ao G1 Ricardo Barros, historiador, mestre pela USP e professor do Colégio Paulista.
A substituição do trabalho pela escola começou a acontecer no final do século XIX e no começo do XX. No Brasil, a grande maioria das crianças ficava longe da escola. "As escolas públicas só vão ganhar a característica de ser um local para um amplo número de crianças no século XX, e isso por conta da luta de anarquistas e comunistas, notadamente imigrantes. No início, as escolas eram proibidas para crianças negras ou filhos de escravos", disse Mary Del Priori.
A autora ainda conta que as primeiras crianças de rua foram trazidas ao Brasil pelos padres jesuítas no século XVI. Elas eram tiradas das cidades portuárias portuguesas e trazidas à colônia para trabalhar.
Outra característica que mudou foi a mortalidade infantil. Somente na segunda metade do século XIX os médicos começaram a se preocupar realmente com o fato de as crianças morrerem cedo e terem muitas doenças. Mary Del Priori resume: "Eu diria que a criança brasileira no passado era uma sobrevivente, diferentemente de hoje, que a criança tem atenção do pediatra, do psicólogo, do orientador educacional e dos pais."
Nenhum comentário:
Postar um comentário