segunda-feira, 27 de junho de 2011

A grande conspiração de dom Pedro 1º

Os bastidores do plano de dominação mais ambicioso do imperador: transformar a América do Sul em uma série de monarquias fiéis a ele

Via Guia do Estudante

Se Julian Assange, o criador do Wikileaks, vivesse nos tempos do Império do Brasil, dom Pedro 1º e dois poderosos diplomatas ficariam em maus lençóis perante os nossos vizinhos. Em 21 e 23 de abril de 1830, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (o atual Itamaraty), que aconselhava dom Pedro em política externa, elaborou instruções secretas para uma missão especial do marquês de Santo Amaro.
O nobre deveria rumar a Londres e Paris, onde defenderia a invasão das repúblicas latino-americanas por forças europeias e sua transformação em monarquias. Monarquias aliadas, de preferência satélites do Império Brasileiro.
Essa história, com requintes de grandiosidade, começou pelo mais prosaico dos motivos: a moral de dom Pedro andava baixo. O homem que havia rompido com Portugal em 1822 e fundado a única monarquia das Américas era agora visto como um déspota "pouco brasileiro", mais preocupado com a sucessão lusitana - aberta com a morte de dom João 6º, em 1826 - do que com os problemas do Brasil. Ainda em 1823, ele havia fechado a Assembleia Constituinte por não considerar a Constituição proposta pelos parlamentares "digna do Brasil e dele próprio". No ano seguinte, haveria de impor sua própria versão. Também não pegou bem a revelação de que a independência havia custado aos cofres brasileiros 2 milhões de libras, entregues a Portugal como indenização.
Para piorar, o Império havia gastado horrores numa guerra contra as Províncias Unidas do Rio da Prata (um dos embriões da República Argentina) -, que acabou na perda da Província Cisplatina, atual Uruguai. Além dos motivos políticos e econômicos, o imperador atraiu a antipatia do povão ao iniciar um caso com a marquesa de Santos, o que humilhara a benquista imperatriz Leopoldina, morta em 1826.
As instruções diplomáticas secretas transpiram esse contexto de popularidade em queda e crescente isolamento de um governante que viria logo a abdicar. O baiano Miguel Calmon Du Pin e Almeida, ministro dos negócios estrangeiros do Império e futuro marquês de Abrantes, tinha a tarefa de enviar um diplomata ao outro lado do Atlântico para buscar apoio de seus pares europeus em assuntos considerados urgentes. E o representante imperial não era um subordinado qualquer. O sexagenário José Egídio Álvares de Almeida fora feito barão de Santo Amaro por dom João 6º em 1818 e receberia depois os títulos de visconde (1824) e marquês (1826) de Pedro 1º. "Para os padrões da época, ele já era bem velhinho em 1830. Provavelmente pegou dom Pedro no colo", diz, brincando, o diplomata Eugênio Vargas Garcia. Ele é o autor do livro Diplomacia Brasileira e Política Externa: Documentos Históricos 1493-2008, que recupera, entre acordos comerciais e tratados de delimitação de fronteiras, o registro escrito desse episódio.
Santo Amaro foi incumbido de fazer lobby para pôr dona Maria da Glória, filha de dom Pedro 1º, no trono português, em que dom Miguel, irmão mais novo do imperador, sentava-se desde 1828. Na bagagem, levaria mais uma missão. Em 1829, a Espanha tentara inutilmente reconquistar o México. O nobre deveria dizer que andara ouvindo falar de intenções europeias de pacificar a velha América espanhola, assolada por guerras civis, que atrapalhavam o comércio, sobretudo na estratégica região do rio da Prata. Passaria então a insinuar que a instabilidade tinha nome: república. Aquele regime sem rei seria uma fonte de baderna por natureza. Dom Pedro I e seus diplomatas tinham descoberto o remate dos males: transformar em monarquias as repúblicas vizinhas.
A ideia é que os vizinhos permanecessem pulverizados, pois o Império temia um reino rival de grande extensão. Para isso, daria o pretexto de ser impossível ignorar o orgulho nacional, já latente entre as populações. Assim, continuariam existindo um Peru, uma Colômbia, uma Bolívia... Menos a Cisplatina, a ser reanexada ao Brasil.
Na impossibilidade de retomar a província, a solução era estabelecer ali um grão-ducado ou principado independente do controle dos argentinos. E quem seriam as cabeças coroadas das novas monarquias? Santo Amaro sugeriria príncipes da casa de Bourbon, família que reinava na França e na Espanha. Para estreitar perpetuamente os laços de amizade entre as nações, os jovens mancebos desposariam as filhas do próprio dom Pedro 1º.
Contraídos tais matrimônios, finalmente reinaria a paz na América. Tudo parecia encaixar-se perfeitamente, não fosse um detalhe: o Império, que propunha o plano, não possuía verba para as intervenções. Santo Amaro deveria, portanto, ter também jogo de cintura para propor que as cortes europeias preparassem suas tropas para começar a emplacar as realezas por estas bandas.

MISSÃO IMPOSSÍVEL
Passados 52 dias de viagem, Santo Amaro aportou em Brest, França, para uma tarefa que terminou não sendo cumprida. Para início de conversa, o rei inglês George 6º acabara de morrer. Numa Londres em compasso de espera, Santo Amaro teve dificuldades de apresentar suas credenciais diplomáticas. Para dificultar, o novo soberano, William 6º, faria um reinado mais liberal do que o de seu irmão mais velho. Os ingleses até apreciavam que o Brasil fosse uma monarquia - isso representava um contrapeso ao republicanismo continental, encabeçado pelos Estados Unidos. Mas eles preferiam deixar cada país livre para escolher o seu regime (e continuar comprando produtos da Inglaterra, claro).
Quanto aos franceses, 1830 seria marcado pela Revolução de Julho, quando o povo armou barricadas que destronariam Carlos 10, um Bourbon de pendores absolutistas, e abririam alas para Luís Filipe de Orléans, tão menos reacionário que foi chamado de Rei Cidadão.
Como não havia clima para encaixar um assunto como o intervencionismo nas distantes ex-colônias espanholas, Santo Amaro se focou apenas na sucessão portuguesa. Ao menos essa missão teve um final feliz: após dois anos de guerra civil, dona Maria da Glória se tornou rainha de Portugal, em 1834. Mas essa é outra história. Em fins de 1830, o novo ministro dos negócios estrangeiros, Francisco Carneiro de Campos, comunicou o fim da missão de Santo Amaro. dDom Pedro 1º e Santo Amaro não viveram para ver a revelação em praça pública de suas secretas intrigas. Miguel Calmon du Pin e Almeida, porém, só morreria em 1865 e testemunharia o “vazamento” do documento. Foi em 11 de julho de 1845, quando o diplomata argentino Manuel Moreno conseguiu uma cópia e a estampou no jornal Gaceta Mercantil, de Buenos Aires.
A divulgação serviu para mostrar que o Império não era um vizinho muito confiável. Para Garcia, o documento é um exemplo de má diplomacia, principalmente por se tratar de um delírio. Mas ele desnuda outros problemas também: "O documento se insere na tradição da época: intervencionismo, intriga palaciana, cálculo de interesses pessoais em detrimento da defesa do interesse nacional..." Isso soa familiar para você? Pois é: a história realmente se repete. E mais ainda quando se trata de farsas.

MARQUÊS DE SANTO AMARO
O baiano José Egídio Álvares de Almeida (1767-1832) foi secretário do gabinete do príncipe regente dom João. Coincidência: eles nasceram no mesmo ano. Ocupou o cargo de embaixador em Londres e Paris e foi um dos dez conselheiros que formularam a Constituição de 1824, imposta por dom Pedro 1o.

MARQUÊS DE ABRANTES
Também nascido em Santo Amaro, Miguel Calmon du Pin e Almeida (1796-1865) foi deputado na Assembleia Constituinte de 1823, ministro da fazenda e dos negócios estrangeiros e até presidente da Imperial Academia de Música. Dom Pedro 2o faria dele visconde (1841)  e marquês (1854) de Abrantes.

VERSÃO ORIGINAL
O plano era casar filhas de dom Pedro com os nobres da família Bourbon que ele colocaria no poder na América do Sul: "V. Exa. não hesitará em dar sua opinião a favor daqueles membros de augusta família de Bourbon. (...) S. M. Imperial [Dom Pedro I] deseja que V. Exa. faça desde logo aberturas de casamento ou esponsais [noivados] entre eles [príncipes] e as princesas do Brasil.



sábado, 25 de junho de 2011

Arqueólogos afirmam ter encontrado possível Arca de Noé

Monte Ararat, na Turquia
Um grupo de arqueólogos chineses e turcos afirmam ter localizado a bíblica Arca de Noé no topo do Monte Ararat, na Turquia, segundo informa  a imprensa local.
Um dos membros do grupo, o documentarista chinês Yang Ving disse que foi localizada uma estrutura de madeira antiga a uma altitude de 4 mil metros no Ararat, que está localizado próximo à fronteira com o Irã.
O explorador, membro de uma organização internacional dedicada à busca da mítica embarcação em que Noé e sua família escaparam do dilúvio, afirmou que os vestígios encontrados datam de 4.800 anos atrás.
"Não é 100% seguro que seja a Arca, mas avaliamos que é 99,9%. A estrutura do barco tem muitos compartimentos e isso pode representar os espaços onde os animais foram acomodados", disse Ving em declarações à agência de notícias turca Anadolu.
O especialista também informou que o grupo entrou em contato com o governo da Turquia para pedir proteção ao local onde será feita as escavações e adiantou que solicitará à Unesco que inclua essa região na lista de patrimônios da humanidade.
Não é a primeira vez que um grupo de arqueólogos afirma ter encontrado a Arca de Noé no Monte Ararat, o mais alto da Turquia, onde a Bíblia narra que Noé desembarcou após as águas baixarem depois do Dilúvio.


Vestígios do que pode ter sido a Arca de Noé
Arqueólogo Yan Ving analisa vestígios encontrados
Possível compartimento onde ficavam alguns dos animais
Vi aqui.

segunda-feira, 20 de junho de 2011