domingo, 21 de novembro de 2010

Militância LGBT e a Síndrome de Mulher de Malandro

Por William De Lucca Martinez - Jornalista, meu amigo.
O carioca Ferruccio Silvestro, depois de ser brutalmente agredido na saída de um bar gay, em Niterói (RJ)


Por dois dias inteiros, a hashtag #HomofobiaNão esteve entre as mais citadas no Twitter do Brasil. Por quase um dia inteiro esteve no topo desta lista, figurando nos trends mundiais, dando visibilidade à manifestação promovida por ativistas dos direitos LGBT e simpatizantes da causa, em referência aos ataques sofridos por homossexuais em São Paulo e no Rio de Janeiro durante a última semana. E de que esta visibilidade valeu ao combalido movimento de defesa dos direitos dos homossexuais e afins? Praticamente nada.

A visibilidade que a internet dá aos assuntos no Brasil é muito grande. Hoje, o Twitter e seus assuntos mais comentados pautam as redações dos veículos de comunicação tradicional, fenômeno que ficou claro durante as eleições deste ano, mais recentemente com o caso da bolinha de papel que atingiu o candidato derrotado a presidência, José Serra. Ganhar visibilidade na rede é importante, sem dúvida, mas a militância LGBT se reduz a praticamente este campo, e a explicação é simples: gays, de maneira geral, não protestam por seus direitos de forma efetiva. A prova deste lamentável fenômeno se explica por duas manchetes, ambas do site G1:

21/11/2010 - Manifestação contra homofobia reúne 200 pessoas na Avenida Paulista

14/06/2009 – Mais de três milhões participam de Parada Gay em São Paulo

Explicando.

Quando o evento é festivo, onde a Avenida Paulista se enche de DJs, drag queens e trios elétricos, milhões de homossexuais de São Paulo e dezenas de outros estados lotam as ruas da cidade, na maior micareta gay do mundo, que ano após ano vem perdendo sua significação.

Agora, se o evento tem realmente um caráter de protesto, onde os gays têm um espaço para buscar visibilidade na nossa mídia (onde somos quase transparentes), apenas 200 pessoas aparecem para gritar contra os absurdos ocorridos em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Esta falta de engajamento político e social da grande maioria dos homossexuais me faz acreditar que, na verdade, sofremos da “Síndrome da Mulher de Malandro”: gostamos de apanhar, gostamos de ser humilhados na escola, no trabalho, gostamos de ser tratados como aberrações por parte de grupos religiosos fanáticos, gostamos de ter nossos direitos civis extirpados, gostamos de não poder ter uma união civil estável com nossos parceiros, gostamos de sofrer bullying. Gostamos de humilhação. Gostamos de degradação. Gostamos de ser viadinho, boiola, baitola, bichinha, pederasta, sodomita. Gostamos de soco na boca, de lâmpada na cara, de chute nas costelas. Somos “mulheres de malandro” dos skin-heads, dos fascistas, dos neonazistas, dos preconceituosos e homofóbicos em geral.

Não vejo outra explicação além do comodismo, ou quem sabe o medo da violência, injustificado, pois a violência já está aí, batendo em nossas portas e na cara de nossos iguais. Em qualquer grupo social oprimido há a busca por direitos, por respeito e por dignidade. Em qualquer grupo que sofre, o sofrimento de seus iguais toca a todos, que se engajam na luta, de mãos dadas por um ideal em comum.

Mas não funciona assim com a comunidade LGBT, se é que é justo usar o termo comunidade para definir esse agrupamento de pessoas que, em comum, parecem ter apenas a orientação sexual. Pra gente, parece que nossa existência como LGBTs não tem nada a ver com a existência como LGBT de nosso vizinho. A morte de outro gay, apenas por ser gay, não nos afeta. A violência, como a que sofreu o carioca Ferrucio Silvestro, em 2007, que foi covardemente espancado na saída de uma balada, apenas por ser gay, não nos afeta. A demissão de nossos amigos gays, apenas por serem gays, não nos afeta. Tudo segue em nossas vidas tacanhas e individualistas.

Os poucos que saem do armário pra militância são chatos, desagradáveis, inconvenientes. Aqueles que lutam pela aprovação do Projeto de Lei 122/2007, pela união civil entre pessoas do mesmo sexo, pela adoção homoparental e pelos outros direitos que nos são extirpados todos os dias.

Os LGBTs precisam acordar. O bonde da história está passando, e nós não estamos nele. Os LGBT precisam acordar. E espero que isso aconteça logo. Espero que isso aconteça antes que uma lâmpada exploda na nossa cara, ou que um tiro atinja nossa barriga depois das paradas gays da vida.

2 comentários:

  1. Zé, parabéns pelo texto.

    Não só sinto sua indignação no texto, como também compartilho dela.

    Forte abraço!

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  2. Oi, Ricardo.
    Lembro que o texto é de um amigo meu.
    De qualquer forma, obrigado.

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